Foto da Igreja Matriz Ascenção do Senhor do Município de Santo Cristo/RS. Foto cedida pela CasaDrone, todos os direitos a eles reservados. Foto de Matheus Casarin (Instagran: @matecasar) |
Organizado por: Eduardo Daniel Schneider
Antes de compreender a construção da nossa bela igreja matriz, é interessante entender porque a religiosidade e a vida comunitária é tão forte no pequeno município de Santo Cristo/RS.
Tudo começa com a colonização de Santo Cristo/RS. A história de Santo Cristo teve o seu início por volta de 1910, quando o Dr. Horst Hofmann adquiriu do Governo do Estado a gleba rural que compreendia o território de Santo Cristo. Esta gleba rural denominava-se colônia Boa Vista, tinha Santo Cristo como sede, pertencia ao Município de Santo Ângelo e compunha-se de 1222 lotes rurais que pertenciam a Companhia Colonizadora Rio-grandense localizada em Porto Alegre (Fonte: IBGE Cidades).
O primeiro chefe de colonização foi o engenheiro Carlos Kulmey. Ele procedeu pessoalmente a medição da terras, iniciando pelas bandas de Cerro Azul (hoje Cerro Largo) de onde provinham gêneros de primeira necessidade para os agricultores que radicaram na nova colônia.
No início, a companhia colonizadora vendia somente terras para colonos de descendência germânica e que fossem católicos. Posteriormente reservou uma área, que abrangia partes da Linha Júpiter, Sírio e Dona Belinha, exclusivamente para protestantes, onde se estabeleceram famílias providas de Santa Cruz do Sul e cujas terras tornaram a ser compradas pelos católicos (ver família Mombach).
Neste contexto, temos uma nova colônia cheia de desafios, de terras selvagens e cobertas por mata Atlântida, e o que uniu os seus moradores foi a sua língua (a maioria apenas falava alemão), as dificuldades e principalmente a sua religiosidade. Isso tornou-se essencial para fortalecer a população na vida em comunidade.
Neste contexto, temos uma nova colônia cheia de desafios, de terras selvagens e cobertas por mata Atlântida, e o que uniu os seus moradores foi a sua língua (a maioria apenas falava alemão), as dificuldades e principalmente a sua religiosidade. Isso tornou-se essencial para fortalecer a população na vida em comunidade.
Algumas décadas se passaram do início da colonização de Santo Cristo e de seu início difícil . Santo Cristo já havia crescido e já era um próspero distrito de Santa Rosa (Santa Rosa se emancipou de Santo Ângelo em 1 de julho de 1931). Na vida religiosa Santo Cristo contava com sua própria igreja (na frente da atual igreja) e com seu próprio pároco (a primeira missa foi realizada pelo Padre Jesuíta Max Von Lassberg - clique aqui).
Padre Adolfo Gallas assumiu como pároco de Santo Cristo em início de 1937. Logo percebeu da necessidade de uma nova igreja e idealizou em sua mente a sua construção, do tamanho da fé dos seus fiéis. Infelizmente os seus planos foram interrompidos pela segunda guerra mundial (1939-1945).
Vista parcial da antiga igreja. Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Após o fim da II Guerra Mundial, em 1947, é retomada a ideia da construção da nova igreja. A diretoria, juntamente com o pároco Gallas, era composta por Aloísio Binsfeld, Clemente de Wallau, Eugênio Brod e Theodoro Ruedell como tesoureiro. Ficou estabelecido que cada sócio daria um suíno para a construção da nova igreja e o pessoal da cidade o valor de uma suíno de 75Kg, assim o dinheiro não faltava.
Segundo Pe. João Romaldo Colling, um dos únicos dilemas encontrados pelo Pe Gallas com a sua comunidade foi quanto a orientação da igreja. A antiga igreja tinha a sua frente para a avenida principal da cidade, Pe Gallas queria que a nova igreja ficasse paralela com a avenida principal e de costas para a atual Rua Amandaú. Já o desejo de grande parte da comunidade é de que a frente da igreja ficasse para onde hoje é a rua Amandaú, de frente para o hospital.
Para a obra, foi contratada a família Bender para fazer os tijolos da nova igreja (a família era vinda de Ibirubá/RS). A Paróquia forneceu a terra, casa e um galpão grande para a olaria e a família forneceu como pagamento dos imóveis 1 milhão de tijolos. Além dos tijolos que foram fornecidos pela família Bender, a paróquia ainda comprou 200 mil tijolos de outras olarias, totalizando o impressionante montante de 1,2 milhões de tijolos usados na obra.
Segundo Pe. João Romaldo Colling, um dos únicos dilemas encontrados pelo Pe Gallas com a sua comunidade foi quanto a orientação da igreja. A antiga igreja tinha a sua frente para a avenida principal da cidade, Pe Gallas queria que a nova igreja ficasse paralela com a avenida principal e de costas para a atual Rua Amandaú. Já o desejo de grande parte da comunidade é de que a frente da igreja ficasse para onde hoje é a rua Amandaú, de frente para o hospital.
Hoje a comunidade nem pensaria em tal feito, porém na época, a orientação proposta pelo Pe. Gallas, deixava a igreja de frente para o campo e de costas para parte da vila existente. Dr. Severiano Ronchi chegou a prometer doar uma quantidade significativa de dinheiro caso a orientação mudasse para a rua Amandaú, porém Padre Gallas ficou firme e não aceitou tal modificação.
Pe Adolfo Gallas Foto de arquivo particular de Eduardo Daniel Schneider |
Além disso, foram utilizadas inúmeras cargas de pedra dura que foram retiradas na Linha Larga. Também foram usados três vagões de areia que foram trazidos até Santa Rosa, de onde os caminhoneiros levaram até a construção.
Em 1° de maio de 1949 foi realizada a festa do início das obras. Segundo Pe Colling, para arrecadar mais fundos, foram leiloadas "den ersten Spatenstich", o que em português significa "os golpes iniciais com a pá". O leilão foi realizado pelo irmão Albino Reis e foram leiloados os três golpes iniciais com a pá. Os três vencedores do leilão foram Inocêncio Gallas, Nicolau Holz e Leopoldo Pellenz, sendo que respectivamente cada um recebeu de recordação uma pá dourada, uma pá prateada e uma pá bronzeada.
Para este momento ficar guardado na história, Padre Adolfo Gallas determinou que fosse feitas fotos de cada um dos arrematadores do leilão junto das suas respectivas famílias, e essas fotos, juntamente com a ata da solenidade, foram depositadas na pedra fundamental da nova igreja.
O chefe das obras foi o senhor Urnau e o engenheiro responsável pelas plantas foi o senhor Stammel. Segundo relatos de alguns moradores mais antigos, apenas os pilares da fundação das torres teriam cerca de 50 metros de profundidade, os quais foram preenchidos com pedras para sustentar as duas imponentes torres.
Foto das obras da igreja Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
O povo de Santo Cristo não era rico, em sua maioria eram agricultores, mas o nascimento de uma das maiores igrejas do Rio Grande do Sul veio através de muito trabalho duro e serviço voluntário. Um dos exemplos interessantes que encontrei nas pesquisas, é o trazido por Brod e reproduzido no histórico fornecido pela Acisa:
Na casa de seu Theodoro Ruedell, domingos e mesmo de vez em quando alguma noite jogava-se “Schafkopp” e “Sieben Stich” a uma preço baixo. No fim de cada jogo o tesoureiro anotava o valorzinho e depois de algum tempo o dinheiro era depositado na Caixa. Após 7, 8 anos com este valor pode ser adquirida uma bela janela colorida. (fonte: Jacinta Ruedell)
Foto das obras da igreja, veja o padre Gallas sentado na foto Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Foto das obras da igreja Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Foto das obras da igreja Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Foto das obras da igreja. Nesta foto é possível ver a igreja velha feita de madeira na frente da igreja nova em construção. Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Foto das obras da igreja Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Foto das obras da igreja Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Antes do término das construção da igreja, em 20 de agosto de 1956, o idealizador da igreja Pe. Adolfo Gallas faleceu por insuficiência cardíaca aguda (segundo atestado de óbito). Por conta do falecimento precoce do Pe Gallas, a construção da igreja foi concluída sob supervisão do Pe Eduardo Ruckhaber.
A construção durou um pouco mais de 9 anos, sendo que a missa de inauguração oficial ocorreu em 21 de setembro de 1958.
Primeira missa da Igreja Matriz Ascensão do Senhor de Santo Cristo/RS Fonte da foto: Reprodução do Museu Municipal de Santo Cristo/RS |
Igreja Matriz de Santo Cristo e casa paroquial após a sua construção. Na foto temos o padre Carlos Waldemar Maldaner (de batina clara) e ao seu lado o padre Eduardo Ruckhaber. O último da direita é o padre Benno Beuren, os outros ainda não foram identificados. Tirando o padre Maldaner, que foi pároco da cidade por muitos anos e o padre Eduardo, os outros eram padres missionários das paróquias vizinhas em visita para conhecer a nova igreja. Descrição construída com ajuda de Ricardo Philippsen. Foto de arquivo particular de Eduardo Daniel Schneider |
Assim nasceu a linda igreja matriz de Santo Cristo/RS. Igreja construída pelo trabalho duro dos seus moradores e da determinação do padre Adolfo Gallas. Além da beleza da nossa matriz, que é o orgulho de todo Santocristense, ela detêm o "título" da terceira maior igreja paroquial do estilo neo-clássico da América Latina com imponentes 73 metros de altura.
O trabalho do Pe. Adolfo Gallas que faleceu em 20 de agosto de 1956, hoje é lembrado com a festa do seminário e da paróquia anualmente.
A fim de trazer ainda mais realidade e vida as fotos de Padre Adolfo Gallas, fiz uma pequena animação pelo site MyHeritage (clique duas vezes sobre a imagem para iniciar a animação).
Colorização da foto da igreja
E o aplicativo Colorize deu uma nova cara a uma foto importante do município de Santo Cristo/RS. Foto de arquivo particular de Eduardo Daniel Schneider |
Iluminação de natal do final dos anos 1990
Das recordações que tenho em minha mente sobre a nossa bela igreja, creio que a principal (e que me remete a minha infância) é da linda iluminação de natal que ela recebia no final dos anos 90. Todo ano, dias antes do Natal, fazíamos o nosso trabalho no campo mais cedo, no interior da Linha Belinha Centro, para ir olhar as luzes de natal da cidade em nosso fusca ano 1978, e com toda certeza, a nossa linda Igreja Matriz era a nossa atração preferida.
Foto da igreja matriz iluminada para o Natal. Fonte: https://www.camarasantocristo.rs.gov.br/paginas/cultura |
Fotos Atuais (2021)
Desde a sua construção, poucas coisas mudaram. Creio que a principal mudança sentida pelos moradores é a sua nova pintura. Por muitos anos a cor da pintura da igreja matriz era feita em tons de amarelo, muito próxima da cor que o aplicativo Colorize chegou, e agora ela está pintada na cor cinza.
Além da cor, a vizinhança da igreja mudou. Antes a igreja encontrava-se em um grande descampado, hoje na frente da igreja temos uma praça e a igreja agora se encontra rodeada de uma área muito povoada. Literalmente ela se tornou o coração da cidade.
Vista da frente da igreja e suas imponentes torres. |
Vista do altar da igreja. |
Vista da parte interna da igreja. Foto tirada próxima da entrada principal. |
Vista da porta principal da igreja (entrada). Foto tirada da metade da igreja em direção da entrada. |
Vista do vitral sobre a porta principal da igreja. |
Vista de um dos vitrais da igreja. |
Vista de um dos vitrais da igreja. |
Texto baseado em relatos, entrevistas, jornais históricos, no histórico cedido pela Acisa* de Santo Cristo/RS e no texto de Pe. João Romaldo Colling. Última atualização: 24/02/2021
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Esta publicação pode ser utilizada pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte:
Schneider, Eduardo Daniel. [Nome da publicação] blog Memórias do Povo Rio-grandense, disponível em: https://eduardodanielschneider.blogspot.com/ Acessado em: [data do acesso]
Valorize esse trabalho!
Caso você tenha qualquer colaboração, ela pode ser enviada para eduardodanielschneider@gmail.com, seu nome será posto como colaborador ao fim da postagem. Fotos enviadas, caso usadas, serão referenciadas em seu nome.
Pesquise sua ascendência!
Incrível resgate histórico. Parabéns aos envolvidos!
ResponderExcluirObrigado Fabrício!
ExcluirParabéns, Eduardo pelo seu trabalho de resgatar a história do trabalho árduo de nossos antepassados em prol da comunidade! Eu nunca tinha visto estas fotos da construção da igreja.Valeu!
ResponderExcluirObrigado Maria Maristela! Também adoro as fotos, cada vez mais vão surgindo novas. Elas são partes significativas da nossa história!
ExcluirParabéns pelo excelente trabalho Eduardo!! Muito bom mesmo!
ResponderExcluirParabéns pelo resgate histórico. Excelente trabalho
ResponderExcluirDelmar Philippsen - Nascido em Santo Cristo em 1947
Bom Dia EU José Plínio Diedrich natural de Santo Cristo, aprecio bastante a história e o resgate de nossos antepassados, pois meu trabalho de graduação em Arquitetura e Urbanismo foi a revitalização do Hotel Cassino de Foz do Iguaçu em Patrimônio Histórico e Centro Cultural, então pergunto, como acesso todo este conteudo para copiar e guardar ??????
ResponderExcluirSUPER PARABENS AOS ENVOLVIDOS NESTE BRILHANTE PROJETO DE CONSERVAÇÃO POIS DATA DE INAGURAÇÃO TEM UM SIGNIFICADO PARTICULAR , FOI NO DIA QUE MEUS PAIS CHEGARAM EM SANTO CRISTO E RECEBIDOS PELAS QUERIDAS FAMILIAS LOCAIS DENTRE ELAS (FAMILIA BAROM) / Marcelo Dipp -Garopaba/ SC.
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