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Igreja de São Sebastião do Caí/RS

O SÃO SEBASTIÃO REBATIZADO PELOS ÍNDIOS: A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ E O EMPREENDEDORISMO DOS PADRES GERMÂNICOS

O uso de qualquer parte desta pesquisa é autorizada, desde que seja referenciada! Texto adaptado por Lidiane Fraga. Última atualização: 21/12/2022

    São Sebastião nasceu na cidade de Narbona, na França, em 256 d.C. Seu nome de origem grega, Sebastós, significa divino, venerável. Ainda pequeno, sua família mudou-se para Milão, na Itália, onde ele cresceu e estudou. Sebastião optou por seguir a carreira militar como o pai. O imperador romano Maximiano não sabia que Sebastião era cristão. Não sabia também que Sebastião, sem deixar de cumprir seus deveres militares, não participava dos martírios nem das manifestações de idolatria dos romanos. Por isso, São Sebastião é conhecido por ter servido a dois exércitos: o de Roma e o de Cristo. Sempre que conseguia uma oportunidade, visitava os cristãos presos, levava uma ajuda aos que estavam doentes e aos que precisavam. Denunciado por um soldado, o imperador se sentiu traído e mandou que Sebastião renunciasse à sua fé em Jesus Cristo. Sebastião se negou a fazer esta renúncia. Por isso, Maximiano mandou que ele fosse morto para servir de exemplo e desestímulo a outros. Maximiano, porém, ordenou que Sebastião tivesse uma morte cruenta diante de todos. Assim, os arqueiros receberam ordens para matarem-no a flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste no estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferido, deixaram que ele sangrasse até morrer. Por isso, a figura que temos desse santo, popularmente é dele, amarrado a uma árvore, com várias flechas em seu corpo. No Brasil, há várias localidades com esse nome, mas somente aqui há O São Sebastião do Caí (Caahy)na linguagem dos índios guarani, rio da mata, uma referência ao rio, que era rodeado por densa vegetação. Logo, o Santo recebe a denominação indígena, marcando a localidade.
    A Paróquia de São Sebastião foi criada em 1⁰ de julho de 1879, desmembrando-a definitivamente de São José do Hortêncio. Porém, sem um local para a realização das missas, as primeiras foram celebradas na casa de Antônio Guimarães, e por vezes também nas casas de João Ely e Lino do Santos.
    Entretanto, nem tudo são flores...
    Nos livros de registros da Cúria Metropolitana encontram-se duas licenças concedidas para a construção de Capelas:
- A Primeira licença tem data de 1 de Julho de 1864 e foi solicitada por Quintino José da Silva Guimarães para a edificação de uma Capela nas terras doada por Francisco Mateus, com a invocação a São Bernardo.
- A segunda, tem a data de 25 de Julho de 1864 e foi solicitada por Antônio da Silva Magalhães para edificar uma Capela com a invocação a Santo Antônio.
    Para acabar com os desentendimentos entre os irmãos, cada um querendo a Capela em um lugar e um santo diferente, Dom Sebastião Dias Laranjeiras propôs que o Santo Padroeiro fosse São Sebastião seu protetor. A Capela acabou sendo construída nas terras de Francisco Mateus, então Exmo. Bispo D. Sebastião Dias Laranjeiras doou a primeira imagem de São Sebastião esculpida em madeira.
    A benção da pedra fundamental realizou-se em meados de Novembro de 1864, mas foram precisos vários anos para a construção da Matriz, pois tendo faltado dinheiro, as obras ficaram interrompidas durante muito tempo. A construção da atual Igreja deu-se entre os anos de 1873 e 1879.
    Em 5 de Julho de 1879 ocorreu a benção do novo templo, o sermão festivo foi em língua lusitana, seguida da Procissão da imagem de São Sebastião.
    Em 1883 padre Carlos Teschauer foi nomeado Vigário e começou então a construção da torre, cuja planta é de autoria de Costa Gama, o mesmo construtor da barragem no Caí.
Foto da igreja
 Jornal Fato Novo/Reprodução
    Em 15 de Agosto de 1886 padre Carlos benzeu solenemente a cruz de pedra da torre, que foi erguida na presença de muitos paroquianos. A torre tem 34 metros de altura, e por muito tempo foi a torre mais alta de todas as igrejas da colônia Alemã.
Antigo cartão postal da Igreja
 Jornal Fato Novo/Reprodução
    A primeira decoração interna da Matriz foi feita pelo Irmão Leigo Hampesch, e aperfeiçoada pelo Ir. Loerken. A atual pintura artística deu-se em 1924.
Foto atual da igreja
Fonte da Foto: Lidiane Fraga
    Algumas datas e fatos interessantes:
· Por volta de 1850, o Vilarejo era atendido por Triunfo;
· 1º de julho de 1863, foi feita a Provisão de Dom Sebastião para a construção da Capela dedicada a São Sebastião;
· A visita de Dom Sebastião com a benção da pedra fundamental se deu em 13 de novembro de 1864;
· A criação da Paróquia ocorreu em 1 de julho de 1879;
Placa comemorativa dos 125 anos da paróquia.
Fonte da Foto: Lidiane Fraga
· A primeira festa de São Sebastião foi em 25 de janeiro de 1880;
· A posse do primeiro Pároco: Pe. Carlos Blees, SJ (1881-1883);
Lista de párocos exposta na igreja
Fonte da Foto: Lidiane Fraga
· A primeira festa solene do padroeiro só ocorreu em 24 de janeiro de 1909;
· Em 1910 foi comprada a Casa Canônica, e a vinda das Irmãs da Congregação de Santa Catarina VM – Criação do Colégio para Meninas (logo ao lado, onde hoje é a Escola estadual Ginásio) e em 1912 pelos irmãos Maristas foi criado o colégio dos meninos com o nome de Colégio Santo Antônio.;
Placa de agradecimento as Irmãs da Congregação de Santa Catarina V.M.
Fonte da Foto: Lidiane Fraga
· Entre vários Párocos que ocuparam a administração da Igreja está no 6º Pároco o Pe. Teodor Amstadt–SJ (1918-1920), Padre fundador do Banco Rural, hoje Banco Sicredi.
· A saída das irmãos Marista de São Sebastião do Caí, ocorreu em 14 de dezembro de 1921, e em 1926 foi fechada a Escola dos Meninos.
· A aquisição das imagens de Santa Rita e São Sebastião do Caí, (1,20m), ocorreram em 1983, à reforma dos altares em 1985.
· O padre Edvino Puhl era uma pessoa muito respeitada e admirada na cidade, em 05 de agosto de 1978, recebeu o titulo de Cidadão Caiense. No dia 11 de julho de 1988, o Pe. Edvino Puhl faleceu e no mesmo ano a Praça João Pessoa, que está em frente à Igreja passa a receber o seu nome em sua homenagem.
Identificação da sepultura de Edvino Puhl
Fonte da Foto: Lidiane Fraga
· A igreja está sempre aberta para visitas e orações. Fica no centro, de fácil localização, em frente à praça. Agora, período natalino, é um lindo passeio para se fazer com a família, pois a cidade investe muito no Natal na Praça, com casinha do Papai Noel, dim-dim, sem mencionar a tranquilidade local. Endereço para os interessados: Rua Henrique D’Avila, nº 712, Bairro Centro, São Sebastião do Caí, RS.

Fonte da Foto: Lidiane Fraga

Na parte superior da entrada, estão pintadas as letras gregas alfa (α) e ômega (Ω) :o início e o fim, remetendo à nossa passagem na Terra, (da vida terrena, à vida Celestial) e depois a cruz coberta com o manto: a vida eterna protegida, a salvação da alma garantida; três imagens, três etapas, três estágios: vida, morte, pós-morte.
Descrição 
e Foto: Lidiane Fraga

São José, São Sebastião e Santo Antônio no altar principal
Descrição e Foto: Lidiane Fraga

Fonte da Foto: Lidiane Fraga

O altar principal conta com detalhes de unas e folhas de parreiras, representando o vinho, o sangue de Cristo
Descrição e 
Foto: Lidiane Fraga

Os cordeiros de Deus bebem a água que cai do Cálice Sagrado, como uma Pia Batismal, rodeado e abençoado pelo Espírito Santo
Descrição e Foto: Lidiane Fraga

O altar principal conta com detalhes de unas e folhas de parreiras, representando o vinho, o sangue de Cristo
Descrição e Foto: Lidiane Fraga
No altar lateral estão as talhadas as letras alfa e ômega (α Ω) e os trigos, representando o corpo de Cristo
Descrição e Foto: Lidiane Fraga
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Fraga, Lidiane. [Nome da publicação] Blog Memórias do Povo Rio-grandense, disponível em: https://eduardodanielschneider.blogspot.com/ Acessado em: [data do acesso]

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Fontes: Textos adaptados por Lidiane Fraga de Jornal Fato Novo e site da prefeitura de São Sebastião do Caí;
Fotos: Lidiane Fraga (atuais) e Jornal Fato Novo (antigas).

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Pesquise sua ascendência!
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Ruínas da Redução Jesuítica de São Miguel Arcanjo

Ruínas da igreja de São Miguel em 1846, depois da desintegração do povoado.
Colorização: Eduardo Daniel Schneider
Fonte da foto/figura: Reprodução.
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Compilação de fotos das Ruínas da Redução Jesuítica de São Miguel Arcanjo e sua colorização

Fotos 1910 a 1920














Foto 1940

Início do descapoeiramento e conservação.


Foto 1987

    Época passava por grande restauração, principalmente na torre do sino que estava quase desmoronando. Ainda era possível subir nas ruínas.

Foto atual - ano de 2020



    Leia também: A origem do termo "china".
    Quer saber mais sobre as reduções jesuíticas do segundo período jesuítico? Clique aqui e veja este vídeo.

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A origem do termo "China"

Índios Guaranis
Fonte: http://www.guascatur.com.br/2014/10/historia-de-itajai.html
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    Quem vive no sul do país com toda certeza já ouviu o termo "china" em conversas, poemas, declamações e na música tradicionalista. Mas alguém já pensou de onde veio essa expressão? 
Em uma pesquisa rápida na internet podemos encontrar algumas definições como esta:

    China: Descendente ou mulher de índio, ou pessoa de sexo feminino que apresenta alguns dos traços característicos étnicos das mulheres indígenas; Cabloca, mulher morena; Mulher de vida fácil; Esposa.  (Fonte: Dicionário Gaúcho, https://ctgjcb.com.br/dicionario)

    Na verdade o termo "china" ou "xina" (como era escrito na época) era apenas usado para denominar mulheres índias. Não se sabe ao certo sua origem, mas o termo pode ser verificado nos registros católicos de batismos de indígenas, nos quais o homem era chamado de índio e a mulher de xina.
Com o advento do tropeirismo no sul do país e a incorporação do termo no vocabulário regional do Rio Grande do Sul, o que antes era apenas usado para denominar mulheres índias passou a ser usado para mulheres índias e não índias (caboclas, pardas, brancas, etc) e também passou a ser usado de forma pejorativa para denominar mulheres que se prostituíam. Essa mudança provavelmente provem dos tropeiros que se deitavam com as "xinas" nos locais de parada das tropas.
    Seguem alguns registros de batismos católicos transcritos do município de Alegrete/RS entre os anos de 1829-1831*, para exemplificar a utilização da denominação "xina" para índias. Esses batismos são de xinas provindas de diferentes povos, inclusive da Argentina. A mesma denominação pode ser encontrada em centenas de outros registros da época, incluindo outros municípios como São Borja/RS e Uruguaiana/RS.
    Leia também: Ruínas da Redução Jesuítica de São Miguel Arcanjo (fotos) - clique aqui.

Transcrição:
Borda: Felicidade xina
Texto:[...] da Curada de Alegrete baptisei e pus os Santos óleos a inocente Felecidade nascida a vinte e quatro de dezembro da passada filha legitima de João da Crus natural do povo da Cruz e de sua mulher Josefa Nengarara natural do Povoados Corpos; forão padrinhos Joaquim Jozé Correia da Camara, e Barthola Poré; de que para constar mandei fazer este assento que assinei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Maria xina
Texto: Aos vinte e hum dias do mes de Outubro do um de mil oitocentos vinte nove, nesta capella curada de Alegrete baptisei e pus Santos oleos a innocente Maria nascida desesete corrente filha de Bernarda Araquinos solteira xina natural de Apostolos, de pai incógnito. Forão padrinhos João Bernardes e Maria Emenegilda, deque para constar fis este assento que assinei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Maria xina
Texto: Aos vinte, e quatro dias do mes de maio de mil oitocentos e trinta e hum, nesta Capella Curada de Alegrete baptizei e pus os Santos oleos inocentes Maria nascida a vinte e quatro de Agosto do passado filha natural de Rosa Paré natural da Cidade de Corrientes; forão Padrinhos David Gomes de Carvalho e Joaquina Francisca de que para constar mandei fazer este assento que assignei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Maria xina
Texto: Aos trinta dias do mes de março do anno de mil oito centos e trinta e hum nesta Capella Curada de Alegrete, baptizei e pus os Santos Oleos a innocente Maria de idade nove meses filha legitima de Nicoláo Barati do Povo de Santo Angelo e de Anastacia Baruaré natural do mesmo forão padrinhos Jozé Bartholomeu e Bernaroina Ribeira; de que para constar pasa constar mandei faser este assento que assignei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Michaella xina
Texto: Aos vinte e tres dias do mes de fevereiro do anno mil oito centos e trinta, nesta Capella Curada do Alegrete baptizei e pús os Santos Óleos a innocente Michaella, nascida vinte um de setembro do anno pasado filha natural de Maria Buyacu, solteira xina, natural do Povo de São Borja; São Padrinhos Lucianno Jaci, e Olaria Xua; deque para constar fiz este asento, que assignei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Bárbara xina
Texto: Aos onze dias do Mes de Dezemlbro de mil oito centos e trinta nesta Capella Curada de Alegrete, baptizei e pus os Santos Olios a inocente Barbara nascida à quatro deste, filha natural de Josefa Maria Solteira natural do povo de São Borja de Missões e de Pai Incognito Forão padrinhos Januario Antonio Cezar e Pertunata Francisca, de que para constar mandei faser este assento que assignei.
Assinatura


Transcrição:
Borda: Matilda xina
Texto: Aos trse dias do Mes de Dezembro do anno de mil oito centos e trinta nesta Capella Curada do Alegrete, baptisei e pus os Santos Olios a innocente Matildas nascida nos vinte e quatro do mes de Setembro deste anno filha legítima de Jose Martinsnatural da Capella de Caçapava e de Felicidade Bernarda natural da Capella de São Gabriel ambos da nação Guaranina (Guarani); forão Padrinhos Matheus Xintenio e Filicíssima Clarara, de que para constar mandei fazer este assento que assignei.
Assinatura.

Transcrição:
Borda: Delfina xina
Texto: Aos vinte e sinco dias do mes de janeiro do anno de mil oito centos e trinta e hum nesta Capella Curada do Alegrete, baptisei e pus os Santo Oleos a innocente Delfina nascida de idade de dois annos filha legitima digo filha natural de Maria Angelica natural do povo de São João das Missões,forão Padrinhos Manoel Duarte, Felicianna Duarte de que para constar mandei faser este assento q. assignei.
Assinatura

Transcrição:
Borda: Mariana xina
Texto: Aos tres dias do mes de maio do anno de mil oito centos e trinta, nesta Capella Curada do Alegrete baptisei, pus os Santos Oleos a innocente Mariana, de idade de seis meses filha de Suria da Conceição guaranina solteira, natural do povo de São Luis das Missões; forão Padrinhos João (ilegível), Maria Antonia; de que para constar fis este asento que asignei.
Assinatura

Transcrição:
Borda: Manoela xina
Texto: Aos quinze dias do mes de outubro do anno de mil oito centos e vinte nove, nesta Capella Curada de Alegrete baptisei e pus os Santos Oleos a innocente Manoela, nascida a quatorse de julho, filha legítima de Manoel (ilegível) e de Maria Petrona indios naturais do povo de São Miguel**; forão Padrinhos (nomes ilegíveis)
Assinatura

Transcrição:
Borda: Maria Xina
Texto: Aos dez dias do mes de Outubro do anno de mil oito centos e trinta nesta Capella Curada de Alegrete baptisei e pus os Santos Oleos a innocente maria nascida a tres (ilegível) filha legítima de João Poti natural do Povo de São Nicolao de Maria Antonia natural do mesmo Povo; Forão Padrinhos Domingos Vieira e Rosa Maria; de que para constar fis este asento que assignei.
Assinatura.
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**Veja algumas fotos históricas das Ruínas da Redução Jesuítica de São Miguel Arcanjo (clique aqui).


China

A maior das gauchadas
Que há na Sagrada Escritura,
Falo como criatura,
Mas penso que não me engano!
É aquela, em que o Soberano,
Na sua pressa divina,
Resolveu fazer a china
Da costela do Paisano!

Bendita china gaúcha
Que és a rainha do pampa,
E tens na divina estampa
Um quê de nobre e altivo.
És perfume, és lenitivo
Que nos encanta e suaviza
E num minuto escraviza
O índio mais primitivo!

Fruto selvagem do pago,
Potranquita redomona,
Teus feitiços de madona
Já manearam muito cuera,
E o teu andar de pantera,
Retovado de malícia
Nesta querência patrícia
Fez muito rancho tapera!

Refletem teus olhos negros
Velhas orgias pagãs
E a beleza das manhãs,
Quando no campo clareia...
Até o sol que te bronzeia
Beijando-te a estampa esguia
Faz de ti, prenda bravia
Uma pampeana sereia!

Jamais alguém contestou
O teu cetro de realeza!
E o trono da natureza
É teu, chinoca lindaça...
Pois tu refletes com graça
As fidalgas Açorianas
Charruas e Castelhanas
Vertentes Vivas da Raça!

A mimosa curvatura
Desse teu corpo moreno
É o pago em ponto pequeno
Feito com arte divina,
E o teu colo que se empina
Quando suspiras com ânsia
São dois cerros na distância
Cobertos pela neblina.

Quem não te adora o cabelo
mais negro que o picumã?
E essa boca de romã
Nascida para o afago,
Como que a pedir um trago
Desse licor proibido
Que o índio bebe escondido
Desde a formação do Pago?

Pra mim tu pealaste os anjos
Na armada do teu sorriso,
Fugindo do Paraíso,
Para esta campanha agreste,
E nalgum ritual campestre,
Por força do teu encanto,
Transformaste o pago santo
Num paraíso terrestre!

Composição: Jayme Caetano Braun.
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Fontes consultadas: *"Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952," images, FamilySearch, Alegrete > Nossa Senhora Imaculada Conceição Aparecida > Batismos. Paróquias Católicas, Rio Grande do Sul (Catholic Church parishes, Rio Grande do Sul).

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