No mês de maio de 1905, estava andando no mato Valentin, de nacionalidade argentina, e mais um companheiro não identificado, ambos residentes em Santo Christo, município de Santo Ângelo. Inesperadamente os dois foram assaltados por um tigre pintado*. Valentim, que não trazia armas, foi trucidado pela fera. Seu companheiro, armado com um bom facão, desferiu com rapidez um certeiro golpe na cabeça do monstro, mas este, ao invés de cair estatelado no solo, ainda lhe mostrou uma dentadura alvíssima. Com grande rapidez e destreza, o pobre homem deitou sebo nas canelas, levando tudo por diante consigo, taquaras, cipós, pitingas, espinhos e todos esses pequenos ornamentos das nossa selvas.
Gravura - Reprodução da internet |
Sabido o caso, reuniram-se 22 homens acompanhados de um exército de cães. Entraram no mato arrasando! Mas.. em poucas horas de combate, o célebre pintado abiscoitou todos os cães! Lá saíram os 22 homens sem o tigre e também sem nenhum dos seus cães.
Caça da Onça, Brasil (Chasse de l'Onze) Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied Brasil Buch: "Reise nach Brasilien" Gravura - Reprodução da internet |
Os homens tiveram que contentar-se em enterrar o morto, que denotava ter tido suas artérias chupadas pela fera. Esta continuou a fazer tumulto durante os meses de junho, julho, agosto e setembro, terminando a campanha na semana finda (outubro de 1905) e pelo modo que segue:
João Pedro de Moura e sua mulher, que residiam no lugar denominado Serrinha, em Santo Christo, saíram a colheita de mel pelo mato levando dois cães de caça. Como demoram demasiadamente, os filhos menores, que ficaram sozinhos na habitação, comunicaram suas desconfianças a alguns vizinhos, que imediatamente saíram em busca do casal.
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Então, os vizinhos encontraram numa clareira o terrível quadro que segue:
Aqui o corpo de João Pedro, completamente dilacerado pelas garras e dentes do tigre. Ao lado do pobre homem, estava deitada a fera com uma faca cravada atrás da paleta e suas patas inchadas pelas pancadas que o homem desferiu com um cacete de quatro quinas, que ali estava deitado todo ensanguentado. Logo adiante, jazia o corpo da infeliz mulher com a cabeça totalmente esmagada e um pouco adiante os dois cães também mortos.
A fera foi reconhecida como a autora da morte de Valentim, por ter uma extensa cicatriz na cabeça. Depois de achada morta entre as suas vítimas, a fera ainda recebe dois tiros, tal era o pânico que inspirava aos caçadores ali existentes.
Ainda se soube de três tigres mortos por diversos em Santa Rosa, na parte que limita com terras de Santo Christo. O penúltimo foi morto pelo velho caçador Joaquim Paulino. A fera deixou este homem velho lastimosamente arranhado, mordido nos braços, peitos e cabeça, sendo possível que fique com um braço direito inutilizado.
*Tigre pintado: pela descrição provavelmente trata-se de uma onça pintada.
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Fonte do relato: Adaptação do relato documentado no Jornal a Federação - 1905 (Edição 259)
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