Adolpho Erny Schneider e Laura Maria Schallenberger - A Crônica de uma vida

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    Adolpho Erny Schneider nasceu em 31 de janeiro de 1923, na cidade de Cruzeiro do Sul/RS (na época a cidade era chamada de São Gabriel da Estrela, 6° distrito de Lajeado). Adolpho era filho de João Schneider Sobrinho e de Delfina Rohenkohl (mulher do seu segundo casamento). Adolpho viveu com seus pais até os 18 anos de idade. Seu pai João tinha um comércio no centro da cidade e uma faixa de terras na qual praticava a agricultura. Segundo o que Adolpho contava, essa faixa de terras ficava próxima do que hoje é o centro da cidade de Cruzeiro do Sul/RS.
    Aos seus 18 anos, Adolpho prestou serviço militar obrigatório na cidade de Itaqui/RS, fazendo algumas missões de proteção da fronteira. Logo após o término do serviço militar, no ano de 1942, buscando sua independência, resolveu tentar a vida em Santa Catarina. Foi para lá no lombo do seu cavalo, porém não teve sucesso e nem auxílio de seus parentes e acabou voltando para Cruzeiro do Sul/RS.
    Novamente no lombo do cavalo, resolveu então se mudar para a Linha Dona Belinha, Santo Cristo/RS, provavelmente incentivado pelo seu meio-irmão Oscar (filho do primeiro casamento de João Schneider Sobrinho com Florinda Nonnemacher) que já residia na comunidade. Lá alugou parte de um lote de terras do senhor Roberto Schallenberger, junto a propriedade que seu irmão Oscar também alugava (mais tarde Oscar comprou a propriedade de Roberto Schallenberger). Para aumentar sua renda e juntar dinheiro, Adolpho trabalhava em uma olaria que ficava próxima a sua casa.
Adolpho Erny Schneider
Foto do arquivo de Lourdes Teresinha Knorst (geboren Schneider)
Descrição: Eduardo Daniel Schneider
    Na comunidade da Linha Dona Belinha, conheceu Laura Maria Schallenberger, que na época tinha 20 anos de idade. Adolpho e Laura se casaram em 22 de agosto de 1950 na pequena capela de São José Operário da Linha Dona Belinha (pela Igreja Católica Apostólica Romana) e em 24 de outubro de 1950 casaram no cartório civil da cidade de Santo Cristo/RS. Laura Maria Schallenberguer nasceu em 29 de dezembro de 1929, na Linha Dona Belinha Santo Cristo/RS (na época o município ainda era chamado de Colonia Boa Vista e era distrito de Santo Ângelo). Laura era filha de Roberto Schallenberguer e Catharina Luísa Mombach (conhecida apenas por Luísa ou "Lúvis"), família da qual Adolpho alugava a terra. A família Schallenberguer e, principalmente, a família Mombach foram as primeiras famílias da comunidade da Linha Dona Belinha, motivo pelo qual o local por muito tempo ficou conhecido por "Mombach-eck" (local ou canto dos Mombach), por isso tinham muitas terras ainda no local. (O sobrenome Schallenberger era escrito com "n" por um erro do cartório de Brochier/RS no sobrenome de seu pai, o correto seria com "m").
    Depois do casamento, Adolpho montou um açougue, que funcionava nos fundos de sua casa em um anexo, nas terras que tinha alugado de seu sogro. 
Casamento de Adolpho Erny Schneider e Laura Maria Schallenberger
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
Festa de casamento de Adolpho Erny Schneider e Laura Maria Schallenberger
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
Laura Maria Schallenberger no seu casamento com sua irmã Ella no lado esquerdo e suas amigas.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Adolpho Erny Schneider e Laura Maria Schallenberger tiveram 5 filhos. São eles:
- Lourdes Teresinha Schneider nasceu em 20 de maio de 1951 na Linha Dona Belinha, Santo Cristo/RS;
- Teoleta Dulce Schneider nasceu em 27 de maio de 1953 na Linha Dona Belinha, Santo Cristo/RS;
- Pedro Edilio Schneider nasceu em 4 de dezembro de 1955 na Linha Dona Belinha, Santo Cristo/RS;
- João Ildo Schneider nasceu em 5 de maio de 1959 na Linha Dona Belinha, Santo Cristo/RS;
- Paulo José Schneider  nasceu em 14 de agosto de 1962 na Linha Saturno, Santo Cristo/RS.
Todos os filhos nasceram em casa com auxilio de parteiras, o que ainda era muito comum naquela época.
    A família de Adolpho e Laura viveu na Linha Dona Belinha até o ano de 1961, quando Adolpho comprou uma colônia de terras (25ha) de Valdir Hillebrandt, na Linha Saturno, Santo Cristo/RS, cerca de 8 km de distância da propriedade da Linha Dona Belinha.
Laura Maria Schallenberger, a filha Lourdes e Adolpho Erny Schneider
Eles estão na frente da antiga casa localizada na linha Dona Belinha.
Repare na direita a pedra para afiar as facas que era usada no açougue que ficava nos fundos da casa.
Foto do arquivo de Lourdes Teresinha Knorst (geboren Schneider)
Descrição: Eduardo Daniel Schneider
    Na nova propriedade existia pouca estrutura, a qual se resumia em uma casa antiga. Adolpho então comprou uma grande casa de madeira da família Hickmann. Ele mesmo a desmontou, levou de carroça (carro de bois) e remontou na nova propriedade. Depois da casa montada e pronta, a família se mudou para o novo local. Adolpho também desmontou a casa da Linha Dona Belinha e a reconstruiu próximo da nova casa, para que servisse como galpão. Mais tarde, esse galpão foi ampliado. Nessa nova propriedade apenas o filho mais novo nasceu (Paulo José Schneider).
Laura na janela de sua casa comprada da família Hickmann.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider

Casa de Adolpho e Laura comprada da família Hickmann
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    A nova casa era bem espaçosa comparada com a da Linha Dona Belinha. Ela contava com três quartos, uma sala (sala que dava para os quartos), uma sala de estar-jantar, cozinha (uma única peça só) e uma área elevada que eles chamavam de "vorbau". Na parte de trás, que se tornou a entrada principal, em razão da altura que a casa ficou na frente (cerca de 1,60 m), foi construída uma área para aumentar a casa original, constituindo-se de uma área coberta, com banheiros e 3 tanques para água. Desses 3 tanques o primeiro servia para água potável, o segundo para água para lavar roupas e o terceiro tinha uma tábua em cima para bater as roupas. Como não existiam máquinas de lavar, literalmente Laura batia a roupa com uma raquete de madeira até toda a sujeira "sair" da roupa.
Laura na janela de sua casa.
Repare na porta da frente sem nenhum acesso, ficava elevada do solo. Provavelmente essa porta era usada pela família Hickmann, mas devido a declividade do local onde Adolpho reconstruiu a casa, ela ficou sem nenhuma função. Essa porta dava acesso para a sala que ficava próxima aos quartos.
Também é possível ver o "Vorbau" onde todos os dias Adolpho sentava para tomar seu mate na parte da tarde.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider

A produção da propriedade

    Na nova propriedade, a família se dedicou à produção de produtos para a subsistência e criação de gado e porcos para venda. Produziam milho, soja (usada no início exclusivamente para a alimentação de porcos, sem quase valor comercial, apenas de troca), arroz de sequeiro, abóboras, xuxu, melancia de porco, batata doce, cana de açúcar (para fazer melado e açúcar), entre outros. Também tinham criação de gado leiteiro, gado de corte, galinhas e porcos.
    Na criação de porcos Adolpho construiu um chiqueiro de baias de concreto, chão revestido com pedras de arenito (conhecida como "Sandblatt"), paredes e estrutura de madeira e telhas de barro. As baias do chiqueiro eram semi-cobertas (uma parte ficava aberta possibilitando banho de sol), com 6 baias para matrizes com separação para os leitões, 1 baia para o cachaço e mais 3 cercados para creche e engorda. Ele produzia seus próprios leitões para a engorda, diferente do sistema que é utilizado nas maiorias das propriedades hoje, onde o produtor se especializa em apenas uma das fases. Ele era integrado ao frigorífico Prenda S/A de Santa Rosa/RS e fornecia com frequência pequenos lotes de animais para a venda. Essa criação para venda terminou aproximadamente no ano de 1994-1995. Também eram criados porcos para consumo próprio, principalmente para produção de banha, geralmente da raça Duroc (vermelho) ou o preto crioulo.
    Nas latas de banha eram conservados pedaços de carne fritos na própria banha e que ficavam imersos na gordura. A gordura conservava naturalmente a carne por vários meses. Um subproduto da banha era o "Grieben" (torresmo), que nada mais era do que a gordura do porco que foi frita e depois prensada para retirar a banha, era a parte que Adolpho mais gostava.

Porco da criação de Adolpho.
Segundo relatos do filho Paulo e de seu genro Vilmar Knorst (casado com Lourdes Teresinha) que ajudaram na carneação, o porco pesou 450 kg e rendeu 11,5 latas de banha.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Enquanto seu Adolpho cuidava da criação de porcos, a sua esposa Laura fazia a venda de leite. Ela era responsável pela ordenha e com ajuda dos filhos fazia a alimentação dos animais e o transporte do leite até a estrada. Na época, ainda não existia resfriadores de leite e ele era levado até uma espécie de casinha elevada que ficava na estrada para que no mesmo dia o leiteiro levasse o leite. Mais tarde foi adquirido um resfriador de leite em sociedade com seu filho Paulo (Paulo comprou parte da propriedade e fez uma casa acima da casa dos pais).
Para alimentar as vacas, além do milho e pasto que produziam na própria propriedade, Laura comprava sempre ração a vontade, gostava dos animais gordos, não importando se tivesse um lucro real ou não.

Vista aérea da propriedade de Adolpho e Laura.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Adolpho e Laura também produziam melado para o consumo da família para o ano todo. Geralmente a produção do melado era feita no inverno. Eles armazenavam o melado em tarros de leite com tampa. Geralmente eram feitos 2 ou 3 tarros para o ano todo. Caso sobrasse melado de um ano para o outro, ele era adicionado no cozimento do novo melado para não ficar velho.
    A primeira moenga de cana era de tração animal, mas logo que possível Adolpho comprou uma moenga moderna movida a motor de combustão. O mesmo motor era usado na "trilhadeira" Schneider & Logemann, que usavam para trilhar principalmente milho e soja.
    Na lavoura Laura e Adolpho trabalhavam juntos com seus filhos. O plantio de milho e soja era totalmente manual. A terra era preparada com ajuda do arado de tração animal e plantio era feito com saraquá conhecido como "pek-pek" pelo barulho que fazia na hora do plantio. Da mesma forma, a adubação era manual e por muito tempo boa parte da propriedade era adubada com esterco de gado.
    No plantio do milho eram feitos duas colheitas a safra e safrinha. Como a colheita era totalmente manual, dobrava-se o milho da primeira safra ficando suspensa a espiga de cabeça para baixo (a palha não deixava a água entrar em contato com a espiga e mofar os grãos) e nas entrelinhas se plantava a safrinha. Quando a safrinha ficava pronta para colheita, colhiam-se as duas safras ao mesmo tempo de forma manual.
    Eles também produziam soja, que geralmente era produzida entrelinha do milho safra. No início, a soja era unicamente usada na alimentação dos porcos, depois começou a ter valor comercial.
Laura carregando um feixe de soja para trilhar
A soja era utilizada principalmente na alimentação dos porcos e era plantada na entre linha do milho safra.
A soja era cozida em um grande tacho de ferro antes de ser oferecido como alimento aos animais.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider

Vida Religiosa

    Adolpho e Laura eram muito religiosos. Sua casa era cheia de quadros de santos e exibiam com orgulho suas lembranças de primeira comunhão e a dos seus filhos na parede da casa. Além disso, Laura tinha muitas imagens de santos, principalmente de Nossa Senhora, da qual também tinha uma medalhinha que sempre levava consigo.
Lembrança da primeira comunhão de Adolpho Erny Schneider
O local aparece como São Gabriel, antigo nome de Cruzeiro do Sul/RS.
21 de abril de 1935 - Padre Affonso Weiler Vigário
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Adolpho e Laura tinham o costume de todos os dias, antes do almoço, rezar uma Ave Maria, um Pai Nosso e um credo na língua alemã para agradecer o alimento. Eles apenas deixavam a sua tradição de lado quando tinham alguma visita que não era da sua família mais próxima.
    Adolpho e Laura dificilmente faltavam ao culto ou missa do fim de semana. Na Linha Dona Belinha, onde moraram até o ano de 1961, a família frequentava a igreja onde Laura e Adolpho se casaram, a qual tinha como padroeiro São José Operário. Quando a família se mudou para a Linha Saturno, passaram a frequentar a capela de Santa Maria Gorethe da Linha Saturno.
    Mais tarde, foi organizada a comunidade da Linha Belinha Centro, tendo como padroeiro Nossa Senhora Medianeira, a família então começou a participar desta nova comunidade, a qual frequentaram até o fim de suas vidas. Nessa mesma capela de Nossa Senhora Medianeira, seu filho mais novo, Paulo José tornou-se ministro da palavra, sendo ministro por mais de 20 anos na comunidade.
Filho Paulo e seus pais Adolpho e Laura no dia que se tornou ministro da palavra da pequena capela católica da Linha Belinha Centro, Santo Cristo/RS
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider

Comemoração de Natal e Páscoa

    A comemoração de Natal e Páscoa sempre era uma festa na casa de Adolpho e Laura, todos seus filhos e netos se reuniam na casa dos avós. A avó Laura era a que mais ficava feliz em ter a  mesa sempre cheia de seus familiares. Laura sempre comprava os "Päckche", que era uma pequena cesta pronta que ela comprava no mercado, para dar para todos os netos. Geralmente tinha algumas balas, merendinhas, torrones e o tradicional coelho ou papai noel de chocolate.
Neto Eduardo Daniel Schneider (filho de Paulo José) com as suas duas cestinhas. Uma das cestinhas tinha recebido de seus pais e outra dos avós Laura e Adolpho. Ano de 1994.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Laura também tinha um pequeno pinheiro sintético. Ela o montava sempre em cima de uma mesa que se situava na sala que ficava próxima aos quartos. Embaixo do pequeno pinheiro, ela montava o presépio e fazia questão de sempre falar sobre o que era o verdadeiro significado do Natal cristão. Laura sempre respeitava a montagem da árvore nas datas cristãs, montando ele no início do advento e apenas desmontando no dia dos Reis (6 de janeiro).
Laura em seu aniversário (29 de dezembro) cortando o bolo sobre a mesa onde estava montado o pinheiro e o presépio de Natal.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Nessas festividades com a família, o almoço era simples. Laura preparava  arroz,  massa caseira,  saladas (sempre temperadas com vinagre de vinho) e maionese, enquanto Adolpho assava o churrasco. Os preparativos começavam um dia antes, quando Adolpho fazia uma churrasqueira. Ele cortava 2 pés de bananeira e com ajuda de estacas os firmava formando 2 linhas, no meio delas ele fazia o fogo, geralmente feito de lenha de guajuvira (conhecida como schwatzhertz). A bananeira servia como um natural regulador da altura da carne e firmava o espeto, impedindo que o espeto virasse. A carne era apenas temperada com sal e para finalizar ele pegava um limão bergamota (limão comum) e pingava para dar um bom sabor. Na mesa todos ficavam sentados até que todos terminassem o almoço.
Adolpho (na esquerda) tomando mate na casa de sua filha Lourdes. Na direita é o seu filho Pedro. Pedro é o único filho solteiro do casal e morou com eles até o final de suas vidas .
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider
    Na parte da tarde, os homens se juntavam para um jogo de cartas que começava às 14 horas e terminava, aproximadamente, às 17 horas, sempre acompanhados de uma cerveja ou chimarrão, desde que não atrapalhasse o jogo.
    Enquanto os homens jogavam cartas, as mulheres faziam uma roda de chimarrão onde sempre deixavam as suas conversas em dia. Enquanto conversavam e tomavam chimarrão, Laura distribuía doces decorados e as balas de caramelo em formato de peixe (fischie).
    Muitas vezes algum dos seus netos pediam para tomar um mate, Laura então pegava uma pequena cuia que já tinha reservada e fazia um mate doce. O costume de tomar mate doce já vinha de sua mãe Catharina Luisa. Luísa, todos os dias de manhã sentava na frente de sua casa para tomar um mate doce e oferecia para as crianças que ficavam esperando na parada de ônibus escolar na frente de sua casa.
A neta Carmen Knorst (filha de Lourdes Teresinha) tomando mate doce com seus avós Laura e Adolpho.
Arquivo pessoal de Eduardo Daniel Schneider

Jogo de cartas

    O jogo de cartas era algo muito comum na vida da família. Geralmente Adolpho se reunia todo sábado, ou domingo de tarde, com seus amigos Arnoldo Puhl e o Edgar Ullmann para jogar. O jogo geralmente era Schaffkopf, um jogo original da Baviera, Alemanha, e adaptado pelos imigrantes. O Schaffkopf é uma espécie de truco dos alemães e é jogado em todo interior do estado do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Às vezes, para variar, os amigos jogavam canastra. Normalmente, jogavam valendo 10 centavos cada ponto. Assim, o máximo que se perdia em um jogo era cerca de 5 reais. Mesmo assim, a contagem gerava muitas confusões e rusgas.
    Sempre que os amigos de Adolpho não vinham, era o neto Eduardo Daniel Schneider (autor) quem jogava com o avô. Eduardo aprendeu a jogar cartas com 5 anos de idade, antes mesmo de aprender a ler. Depois que os amigos de Adolpho não podiam mais ir na sua casa, Eduardo praticamente virou seu único companheiro nos jogos de canastra. O neto só não jogava com o avô quando chegava alguma visita, quanto então Adolpho aproveitava para ter uma jogatina, mas nunca jogando valores altos.
Com o neto ele jogava apenas por diversão, mas sempre de forma competitiva, nunca queria perder e, quando via que o neto ficava triste, trazia-lhe algumas balas ou o convidava para comer uns pinhões/milho verde.

Dia a dia

    O dia a dia de Adolpho e Laura começava cedo. As 5:30h da manhã Adolpho levantava para fazer o seu mate, já reanimava o fogo, enquanto Laura ia arrumando a mesa do café, geralmente com pão caseiro, schimia (feito com abóboras, xuxu, melancia de porco, trituradas e cozidas com açúcar), melado, nata fresca, leite e café. Quando iam para a cidade, também compravam rosca de polvilho e salame colonial.
    Depois de tomar café, Laura ia cuidar das vacas de leite e Adolpho dos porcos. Geralmente Adolpho terminava antes de Laura e já pegava sua enxada e seguia para a roça. Quando Laura terminava, ia ajudar o seu esposo.
    Por volta de 11 horas, Laura ia para casa preparar o almoço, o qual estava pronto às 12:10h. O sino da igreja da Linha Saturno era tocado exatamente as 12 horas (meio dia) e nesse horário Adolpho ia para casa. Laura sempre fazia massas caseiras, arroz, carne com molho, batata doce (ou normal) e alguma salada (geralmente repolho).
    Depois do almoço, Laura lavava a louça e depois juntamente com Adolpho ia descansar um pouco (sestear). Por volta de 14:00h, levantavam tomavam alguns mates e Adolpho ia novamente para roça. Na parte da tarde, Laura cuidava mais dos afazeres de casa, lavava roupa, varia o pátio, carpia a horta, lascava lenha, cuidava das galinhas e já ia se preparando para o serviço com as vacas novamente.
Por volta de 17:00h, tiravam leite e tratavam os animais novamente e às 18:30h já estavam voltando para dentro de casa. Jantavam o mesmo que no café e iam se recolher bem cedo, geralmente 20:30h.

A Língua Alemã

    Adolpho e Laura, como a maioria das famílias descendentes de famílias germânicas, falavam o idioma alemão em casa. O alemão era uma mistura de dialetos antigos trazidos da Alemanha (predominantemente o Hunsrück) e o próprio português. Adolpho além de falar o alemão, também sabia ler e escrever no idioma, mas poucas vezes o fez. O casal também falava muito bem o português. O alemão sempre era utilizado nas conversas com seus familiares e amigos e em suas orações diárias. O português apenas era usado quando iam para a cidade ou quando alguém não sabia falar o alemão.
    Eles tinham medo de falar o alemão em público. Esse medo decorria de episódios de perseguição da época de Getúlio Vargas, quando o idioma foi proibido, e quando inclusive o pai de Laura, Roberto Schallenberger, foi ameaçado pela polícia diversas vezes pelo uso do idioma.
    A família também tinha inúmeros livros na língua alemã que foram todos queimados e seus restos enterrados para evitar problemas com a polícia. Um desses livros que sobreviveram a esse episódio foi encontrado no porão da casa, aproximadamente no ano de 1998, pelo seu neto Eduardo Daniel Schneider. Quando questionada sobre o que se tratava e porque estava chamuscado pelo fogo, Laura disse ao seu neto para jogar o livro no local onde o encontrou. Ela não deu explicações do que se tratava, tamanho era o seu medo, mesmo já tendo passado mais de 50 anos do fim da guerra. Esse livro nunca mais foi visto, provavelmente Laura terminou de o queimar.

Falecimento de Adolpho e Laura

    No ano de 2003, depois de uma série de tonturas e quedas, o filho Paulo ficou desconfiado que havia algo errado com sua mãe. Para tanto levou Laura para fazer pela primeira vez em sua vida uma série de exames no hospital. Após suspeitas do médico, foram feitas tomografias que apontaram inúmeros tumores cerebrais, sem a possibilidade de tratamento ou reversão. Foi um choque para toda a família, mas apesar do prognóstico tenha sido de apenas 4 meses de vida Laura viveu mais 2 anos, falecendo em 2005. Laura se mostrou um exemplo de fé na vida, mesmo ficando de cama por quase um ano e meio, sempre acreditava que voltaria a andar e que iria ficaria curada. 
    Após a morte de sua esposa Laura, Adolpho se sentiu solitário. A vontade de viver não era mais a mesma. Quando a companheira Laura era viva, ele sempre dizia que iria viver até os 100 anos, mas aos poucos ele deixou de ir na roça e de jogar cartas com seus amigos. Claro, a idade estava chegando cada vez mais, mas a sua vontade não era mais a mesma. Depois de 4 anos do falecimento de Laura, Adolpho faleceu em 2009 de causas naturais.

A descendência de Adolpho e Laura

    A descendência da família de Adolpho e Laura é relativamente pequena comparada com a maioria das famílias que eram muito numerosas naquela época. A descendência do "Vovô Careca" e da "Vovó Laura", como eram carinhosamente chamados pelos seus netos, se resume a 5 filhos, 9 netos, 9 bisnetos e 1 trisneto. (2020)

Homenagem 

    Para finalizar segue uma reprodução do poema 'Liewe Laura' (Querida Laura), de autoria de Josiete Cristina Schneider Queiróz. Josiete é neta de Laura e Adolpho e o poema foi escrito em homenagem a sua avó Laura e foi publicado livro Hunsrück em prosa e verso, pagina 56.

Liewe Laura (Fier meine liewe Vovo Laura)
Josiete Cristina Schneider Queroz (Porto Alegre – RS)

Wenn ich mich uff dein Schoss setze,
stickt mein Blut direkt in dein Hetz.
Dann gibt’s kee Probleme mehr,
Unn ich versteckle mich in dein Schetz

Deine weisse Hohr sinn mein Deck,
Die Orme sinn mein Kisse,
Die Brust is mein Bett,
Unn ich vegesse das Schlofe zu misse.

Die Stimm is siess wie Schmier,
Die Aue sinn braun wie die Steen,
Die Haut is frisch wie ein Weissbier,
Unn die Henn rieche noh viel Orweit unn Huwwelspeen.

Dann schaukelst du hin unn her
Meine Fiessche stremple in die Luft,
Das is deer goo net schwer
Unn macht meer viel Luscht.

Der Schockelstuhl kwitscht ganz hoch,
Liewe Laura, liewe Laura, liewe
Meine kleene Henncher spiere deine schrumpliche Haut noch.
Unn es dauert net lang, sinn ich schon ingeschlof.
Du kusst mich uffs Pickche unn soohst ganz heelich
“Schlof gut, mein Schnuckerche! Treem siess, mein Nochbarche!”


Hunsrückisch em Prosa e Verso
Textos do I Concurso Literário de Poemas e Contos em Hunsrückisch 2017
© 2018 dos respectivos autores.

    Para a reprodução do poema foi solicitada autorização aos responsáveis do Projeto Alma. Todos os diretos reservados.
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Dados genealógicos
Adolpho Erny Schneider
Pai:
Avô paterno:
Avó partena:
Mãe:
Avô materno:
Avó materna:
Laura Maria Schallenberger
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Esta publicação pode ser utilizada pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte:
Schneider, Eduardo Daniel. [Nome da publicação] blog Memórias do Povo Rio-grandense, disponível em: https://eduardodanielschneider.blogspot.com/ Acessado em: [data do acesso]

Valorize esse trabalho!

Colaboradores*: 
Paulo José Schneider: descrição da história da família;
Pedro Edilio Schneider: descrição de fatos da história da família;
Carmen Knorst: descrição de fotos; 
Lourdes Teresinha Knorst (geboren Schneider): disponibilizou fotos da família.

Caso você tenha qualquer colaboração, ela pode ser enviada para eduardodanielschneider@gmail.com, seu nome será posto como colaborador ao fim da postagem. Fotos enviadas, caso usadas, serão referenciadas em seu nome.

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