A Centenária Figueira de Santo Antônio das Missões - A data exata do seu plantio

Fonte da imagem: Cleusa Caldas
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    A grande figueira centenária localizada Largo Vereador Evangelista Helgueira de Godoy, defronte à Câmara de Vereadores da pacata cidade de Santo Antônio das Missões é símbolo deste Município. Santo Antônio é conhecido como o Celeiro da Hospitalidade e com toda certeza esse título tem tudo a ver com a história da figueira centenária e dos primórdios do município. Santo Antônio nasceu como Vila Treze de Janeiro, as margens da estrada que servia de passagem para quem vinha tanto do centro do estado como do norte em direção a São Borja/RS. 

A história da figueira 
Fonte: Santo Antônio das Missões - Celeiro da Hospitalidade, de Pedro Marques dos Santos (apud Confraria Missioneira)

    A histórica Figueira, símbolo da cidade de Santo Antônio das Missões, árvore plantada na década de vinte por um negro velho de nome Tibúrcio Moreira a mando do comerciante Manoel Cavalcante, que era estabelecido nesse local. Se falarmos da histórica Figueira é porque efetivamente ela tem sua história.
    Á direita da Figueira e a sua retaguarda existia uma casa comercial de campanha na época, cujo comerciante era um Senhor de nome Manoel Cavalcante, cidadão respeitável, mas mui bonachão. Seus estabelecimentos eram pontos de sesteada e até mesmo de pousada de viajeiros, já que por ali passava a estrada São Luiz Gonzaga e São Borja. Seu estabelecimento comercial e residencial era de construção modesta, paredes de tábuas e coberta de telhas.
    O que faltava era sombra, então ele pensava em plantar umas Figueiras, algumas Timbaúvas, árvores que num futuro próximo oferecessem boa sombra. Costumava frequentar à venda do Sr. Cavalcante um negro velho de nome Tibúrcio Moreira, que lá ia tomar “uns tragos”.
    Era um domingo de sol mês de janeiro, logo pela manhã chegou Tibúrcio, montando um “rosilho”, na chegada pediu logo um trago de canha boa. O Sr. Cavalcante serviu-lhe e disse: “Te dou uma garrafa de canha se conseguires uma muda de Figueira para plantares ai na frente”. Imediatamente Tibúrcio montou seu “rosilho” e foi ao mato à procura da encomenda. Logo estava de volta trazendo a muda de Figueira, ao chegar cobrou a garrafa de cachaça prometida. E assim foi trabalhando no processo do plantio da árvore e bebendo.
    Terminado o serviço e também a “canha”, Tibúrcio, talvez se sentindo mal, foi sentar-se no interior de um galpão existente nos fundos da casa comercial. Momentos depois, alguém chamou a atenção de Cavalcante de que Tibúrcio estava caído, neste instante passava pelo local o Dr. Cândido, médico em São Luiz Gonzaga, que chamado por Cavalcante examinou Tibúrcio e constatou que ele estava morto.
Esta é a história da hospitaleira Figueira de Santo Antônio das Missões.
Placa da história da figueira instalada em 1994

A data exata de plantio

    Levando em conta a tradição oral, que preservou a história da figueira símbolo da cidade de Santo Antônio das Missões, fui em busca do óbito de Tibúrcio Moreira, afinal, na década de 20 já era obrigatório a declaração de todos os óbitos ao inspetor dos distritos. Após algumas boas horas de pesquisa finalmente encontrei o seu óbito.
    Considerando que a história contada e que o senhor Tiburcio faleceu logo após o plantio da figueira, é possível determinar através do óbito do senhor Tibúrcio a data exata do plantio da figueira. 
    A data exata do plantio da figueira símbolo de Santo Antônio das Missões é 7 de julho de 1914 e em 2022 estaria completando seus 108 anos do seu plantio. 

    Segue a transcrição da certidão de óbito de Tibúrcio Moreira 
    (Fonte: registro civil de Santo Antônio das Missões/RS - Óbitos. Foi mantido a ortografia usada na época.):
Aos dez dias do mes de Julho do anno de mil novecentos e quatorze neste quarto distrito de Garruchos Município de São Borja¹, Estado do Rio Grande do Sul, em meu cartório me foi apresentado hoje a certidão datada de hontem assignada pelo Inspetor da primeira Inspectoriado primeiro comissariado deste districto, Ricardo Bretta dos Santos, da qual estrahy as declarações que lhe forão dadas pelo Inspetor pelo Sr. Manoel Cavalcante, rezidente na mesma Inspectoria, comerciante e perante testemunhas os Senhores Alfredo Alves de Abreu e Patrício Orlando das Neves, também rezidentes na mesma Inspectoria, as quais são as seguintes: que em a rezidencia delle declarante, no dia sete do corrente as tres horas da tarde, falleceu repentinamente proveniente de enfermidades, Tiburcio Moreira, de côr preta, com cincoenta e sete anos de edade, solteiro, não teve assistencia medica, natural deste Estado rezidente neste districto, de profissão agricultor, filho de Margarida Moreira, não deixou testamento e foi sepultado no cimeterio particular neste districto denominado Santo Antônio² e são testemunhas destes em assistidos obito as mesmas acima referidas. E para constar, eu Francisco da Silva Lago escrivão do registro lavrei este termo que assigno. Francisco da Silva Lago (assinatura)³

    Além da data exata do plantio, ainda é possível ver o nome do comerciante Manoel Cavalcante e de mais duas testemunhas do fato, o senhor Alfredo Alves de Abreu e o senhor Patrício Orlando das Neves.
Uma das únicas diferenças da história local é o mês de plantio. Na história local o plantio foi realizado em janeiro, mas de acordo com a data do óbito, foi realizado em julho.

A queda da árvore e o seu renascimento

    Na virada do ano de 2017 (cerca de 1 hora da madrugada do dia 1/1/2017), ocorreu uma grande "viração" do tempo, com fortes ventos. A grande figueira não aguentou a força do vento e perdeu mais da metade da sua copa. Este fato causou grande comoção entre os munícipes de Santo Antônio das Missões, que creram que era o fim do centenário símbolo da cidade.
Apesar desse trágico fato, que acabou destruindo grande parte da figueira, ela continua de pé, acolhendo a todos que buscam uma boa sombra próximos à Câmara de Vereadores e à rodoviária da cidade.
Foto da figueira antes da queda de parte da sua copa
Fonte da foto: Confraria Missões
A queda da metade da figueira centenária
"Figueira símbolo de Santo Antônio das Missões perde um de seus braços"
Fonte da foto: Portal Missões
Foto atual (2022)
Sombra da figueira projetada sobre o pátio da câmara de vereadores

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¹ Na época, o atual município de Santo Antônio das Missões era conhecida como Vila Treze de Janeiro e pertencia ao distrito de Garruchos, tudo fazendo parte do município de São Borja. A Vila passou a distrito próprio apenas no ano de 1939.
² O referido cemitério particular de Santo Antônio é o atual cemitério municipal.
³ Pouco se sabe de Tibúrcio Moreira, sua vida, onde trabalhava, onde nasceu e sua origem, além do que é descrito no seu óbito. Considerando o seu ano de falecimento e a sua idade,  Tibúrcio Moreira nasceu no ano de 1857 no Rio Grande do Sul. Considerando as leis que culminaram na abolição da escravatura no ano de 1888, é provável que Tibúrcio passou grande parte da sua vida como escravo.

Esta publicação pode ser utilizada pelo(a) interessado(a), desde que citada a fonte:
Schneider, Eduardo Daniel. [Nome da publicação] blog Memórias do Povo Rio-grandense, disponível em: https://eduardodanielschneider.blogspot.com/ Acessado em: [data do acesso]

Fontes consultadas: Registro civil do município de Santo Antônio das Missões/RS, Confraria Missioneira, Portal Missões

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Para essa publicação foi utilizado inúmeras horas de pesquisas em registros precários e escritos a mão e visita a cemitérios.
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